Agora que a nossa presidente criou o mote “Pátria educadora”, e colocou a Educação nas mãos de intelectuais do porte do secretário de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, e do ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, os cientistas talvez possam contribuir com uma ideia nova em nosso país: “Ciência para a Educação”.

De que se trata? Não é ensino de Ciências, nem educação científica, nem divulgação científica para crianças. É algo mais: aplicar na Educação as novas descobertas da Ciência, como fazemos há muito para a Saúde. Todos já nos convencemos de que a Saúde depende da Ciência, sem prejuízo de ações essenciais que independem dela, como habitações decentes, saneamento universal, e hospitais em boas condições.

Não temos ainda a mesma compreensão no caso da Educação, e discutimos apenas as ações básicas: mais escolas, turno integral, melhores salários… Todas são indispensáveis, mas dependem de dois únicos fatores: vontade política e recursos financeiros. Implementá-las depende pouco da Ciência: é preciso apenas planejar, fazer, avaliar, e corrigir se for o caso. Isso, sem dúvida, levará o Brasil a acentuar a curva de crescimento dos seus indicadores educacionais e torná-la paralela à dos países centrais. Ou seja: estancaremos a ampliação da nossa desvantagem, mas a diferença permanecerá. No entanto, se queremos ser competitivos, alcançá-los, e quem sabe ultrapassá-los em algumas décadas, precisamos infletir a curva para cima ainda mais, muito mais, e nesse caso a Ciência será indispensável.

Ciência para Educação significa associar a Neurociência, a Física, a Fisiologia, a Biologia, a Matemática ou a Sociologia a objetivos aplicáveis às práticas educacionais. Trazer o novo que a Ciência cria para a Educação. Exemplos? O ensino da música favorece a fixação do foco de atenção das crianças, e repercute positivamente no ensino de Matemática… Os videojogos de ação (até mesmo os violentos!), contribuem para o controle executivo na tomada de decisões… O sono consolida a memória… Com esses dados da Ciência, não seria o caso de sugerir aos educadores um currículo em que a música preceda a Matemática? Criar videojogos não violentos com forte potencial educacional? E que tal um tempo de soneca após o almoço para as crianças em turno integral?

Bem, esse esforço começou, no Brasil. Em novembro último, o Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ associou-se ao Instituto Ayrton Senna e convidou cerca de 30 pesquisadores a fundar a Rede Nacional de Ciência para Educação. Ainda em seus primeiros passos, a rede pretende ampliar os grupos de pesquisa associados, estimular a difusão dos dados científicos aplicáveis à Educação, fomentar parcerias internacionais e, acima de tudo, sensibilizar os nossos dirigentes a criar fontes de recursos e iniciativas estruturantes em Ciência para Educação, de modo a tornar o país não apenas um seguidor dos países centrais, mas um líder internacional na área.

 

Artigo originalmente publicado em O Globo (30/04/2015) 

Sobre o Autor

Avatar photo

Graduado em Medicina pela UFRJ, com Mestrado e o Doutorado no Instituto de Biofísica (UFRJ), e pós-doutoramento no Massachusetts Institute of Technology. É Professor Titular da UFRJ, Membro Titular da Academia Brasileira de Ciências, Pesquisador 1A do CNPq, e Cientista do Nosso Estado da FAPERJ. Na UFRJ, chefia o Laboratório de Neuroplasticidade do Instituto de Ciências Biomédicas. Possui numerosos trabalhos científicos sobre desenvolvimento, plasticidade e evolução do cérebro, bem como livros de divulgação da neurociência para adultos e crianças.

Deixe um comentário

Seu e-mail não será publicado