Estudo de pesquisador da rede CpE aponta superdiagnóstico do transtorno no Brasil
Estima-se que cerca de 12% dos estudantes universitários brasileiros sofram com transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Mas os especialistas veem com desconfiança esse número, considerado alto demais. Por isso, uma equipe liderada pelo psiquiatra Paulo Mattos, pesquisador da Rede CpE, do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), decidiu experimentar pequenas alterações no método diagnóstico atualmente utilizado. O resultado indica que a prevalência do TDAH pode ser, na verdade, bem menor do que as estimativas atuais sugerem.
Caracterizado principalmente pelos elevados níveis de impulsividade e desatenção ou hiperatividade que geram comprometimento em funções diárias do paciente, como atividades escolares ou no trabalho e relações pessoais, o TDAH pode ser diagnosticado na infância ou na vida adulta. A principal ferramenta para isso é uma entrevista semiestruturada chamada K-SADS (acrônimo do nome em inglês do questionário, Kiddie Schedule for Affective Disorders and Schizophrenia), que avalia pacientes de seis a 18 anos.
Mattos e seus colaboradores na UFRJ e no Hospital Pediátrico de Toronto, no Canadá, desconfiaram que o diagnóstico, feito a partir do somatório dos sinais do transtorno relatados pelo paciente, poderia estar superestimando a gravidade dos sintomas – afinal, desatenção e impulsividade são características que a maioria das pessoas experimenta em algum momento, sem que esse fato, isolado, caracterize TDAH.
Os pesquisadores também achavam que algumas perguntas confundiam os pacientes, quando perguntavam como a desatenção e outros sinais do TDAH os prejudicavam no cotidiano. Decidiram, então, fazer pequenas modificações na entrevista, como solicitar aos pacientes que relatassem exemplos de como cada um dos sintomas tinha impacto em seu dia a dia. Assim, esperavam evitar interpretações errôneas das respostas.
Ao longo de quatro anos, 726 estudantes universitários responderam o K-SADS e pouco mais de 30% responderam também o questionário modificado. Cerca de 8% do total de participantes foram diagnosticados com TDAH segundo os resultados do K-SADS – um número, embora alto, coerente com índices encontrados em outros países. Já quando a ferramenta modificada foi utilizada, o diagnóstico foi confirmado em apenas 4,5% dos casos.
“Nosso estudo mostrou que, mesmo utilizando a ferramenta mais rigorosa disponível na psiquiatria [o K-SADS], a chance de diagnóstico incorreto é grande. Com isso, muitas pessoas podem estar sendo tratadas sem possuírem, de fato, TDAH”, alerta Mattos.
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