Estratégias simples em sala de aula favorecem ensino com exercício da memória
Quando se pensa na aprendizagem, normalmente o foco dos professores é tentar colocar mais informações dentro da cabeça dos alunos. Mas uma estratégia efetiva pode ser justamente o contrário: tirar informações da cabeça deles. Essa é a premissa da “prática de lembrar”, uma estratégia de ensino que visa extrair informações através do ato de lembrar, ou de trazer as informações à mente, fortalecendo o aprendizado na memória.
Não se trata de avaliações, mas de ações e iniciativas em sala de aula com o objetivo de relembrar o que foi ensinado. Práticas que não estão associadas a uma nota, mas são aplicadas para reforçar a memória.
“Muitos estudos científicos mostram que ficar relendo a matéria ou anotações, a forma preferida de estudar pela maior parte dos alunos, não funciona nada bem. Para promover a aprendizagem duradoura é crucial fazer com que os estudantes se esforcem a recordar conteúdos dados”, explica a psicóloga e pesquisadora associada da Rede CpE Sabine Pompeia, da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
Sabine dá um exemplo: “Quando você deliberadamente recorda uma informação, ela é forçada a sair e assim, examinamos o que sabemos. Por exemplo, eu poderia achar que sabia quem foi o segundo Presidente do Brasil, mas só tenho certeza se tentar responder essa pergunta para mim mesma. É esse esforço para recordar que melhora nossa memória e aprendizado. Quando tentamos recordar uma informação, exercitamos nossa memória e também conseguimos identificar lacunas no nosso conhecimento.”
A pesquisadora, juntamente com sua aluna de doutorado Roberta Ekuni, traduziu um guia elaborado por pesquisadores cognitivos norte-americanos de diversas universidades, como Universidade da Califórnia, Duke,Virginia, Flórida e outras. O material, voltado para professores, esclarece sobre essa estratégia e oferece dicas de como implementá-la em sala de aula de modo simples.
“A prática de lembrar é uma estratégia muito poderosa para melhorar o desempenho acadêmico sem envolver mais tecnologia, dinheiro, ou tempo em classe”, reforça.
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Confira algumas dicas de como implementar em sala de aula:
– Os alunos estão desmotivados? Então dê bonificações por responder aos testes, perguntas ou exercícios ao invés de dar nota considerando somente acertos. Por exemplo, se fizer os exercícios em todas as aulas em que estiverem presentes ganham 0,5 na nota final. Caso você não tenha tempo de olhar as respostas, peça que os colegas corrijam as respostas um dos outros, de forma aleatorizada. A correção pode ser feita até por alunos de outra classe. Importante: não dê pontos só para quem acertou. Premie quem tentou acertar!
– Dê bilhetes de entrada e saída, ou perguntinhas escritas na lousa ou em tiras de papel, que podem ser apresentadas no começo da aula para serem respondidas até o final, ou dadas no fim da aula para serem respondidas na aula seguinte. Isso faz os alunos prestarem mais atenção. Não é necessário determinar quem acertou ou não, portanto a correção pode ser coletiva.
– Fazer perguntas, exercícios, testes frequentes. Os alunos se acostumam e há evidências de que a ansiedade diminui, em especial se não importar se acertarem ou não a resposta. Lembre-se: o essencial é fazer os alunos pensar. Não importa se erraram as respostas, se em seguida tiverem acesso à resposta correta!
– Faça perguntas e exercícios sobre o mesmo conteúdo mais de uma vez de forma espaçada, em aulas diferentes, preferencialmente em formatos diferentes (ex. múltipla escolha, depois resposta aberta). Exercícios e perguntas usadas para praticar lembrar podem ser os mesmos usados todos os anos em turmas diferentes, então basta fazê-los uma vez. Não precisa variar ano a ano, como questões de provas.
– Insira exercícios, testes e perguntas de matérias passadas no meio das questões referentes ao conteúdo atual. Isso é muito importante! Faz os alunos terem que relembrar a matéria estudada há tempos. Eles não vão fazer isso sozinhos, porque dá trabalho.
– Peça que os alunos, sozinhos ou em grupo, inventem perguntas por escrito para serem respondidas pelos colegas da mesma sala, ou de outra turma, também por escrito. Isso faz com que tenham que pensar! Competir com outras salas é também um ótimo estimulante. O professor pode até aproveitar essas perguntas para outras turmas, ou mesmo adaptá-las para as provas.
– Dê um tempo em aula para que os alunos, em grupo ou sozinhos, escrevam listas de conceitos aprendidos em uma folha, com explicações no verso. Estimule os alunos a consultar a lista no ônibus, na fila do banco, etc. Eles só devem virar a folha depois de achar uma resposta para cada termo, qualquer que seja. Outra opção é colocar o conceito de um lado de um cartão com a resposta no verso (chamados de “flashcards”). Os alunos podem até compartilhar essas listas ou cartões entre si. Fazendo isso, já estarão estudando para as provas aproveitando o tempo que é em geral perdido em atividades cotidianas.
– Separe pelo menos 5 minutos da aula (começo, meio ou fim dela) para fazer perguntas sobre a matéria dada naquela ou na aula anterior, relacioná-la a conteúdos dados antes, pensar em como aquilo tem a ver com a vida dos estudantes.
– Estimule todos a responder perguntas: o professor pode fazer uma pergunta e os alunos respondem escrevendo a resposta com caneta apagável sobre cartões plastificados e levantam, todos juntos, os cartões com as respostas. Os cartões podem ser feitos pelos alunos e são reutilizáveis. Isso é bem útil se a resposta for, por exemplo, um número. Sempre lembre de dar a resposta certa ao final.
– Estimular todos a responder pode ser feito de outra forma também: o professor pode projetar alternativas de múltipla escolha da tela se usar projetor, ou escreva as alternativas na lousa. Os alunos respondem todos ao mesmo tempo, levantando cartões com cores diferentes, cada cartão correspondente a uma letra (ex. alternativa A=cartão azul). Esses cartões podem ser confeccionados pelos próprios alunos com cartolina, por exemplo. Todos respondem às perguntas dessa forma, não somente os alunos estudiosos. O professor rapidamente identifica os erros pela cor dos cartões e pode adequar a continuação da aula ao entendimento do conteúdo. Isso quebra a monotonia na aula e anima todo mundo.
– Há também uma proposta chamada “duas coisas”: no começo, meio e/ou fim da aula peça que alunos escrevam duas coisas dentre essas opções: o que gostaram mais, o que querem saber mais, o que aprenderam até aquele momento, o que aprenderam na aula passada. Isso força os alunos a pensar na matéria, quebra a monotonia, e serve como fonte de informações para o professor. O legal é que aqui não há mesmo resposta certa ou errada.
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