Pesquisadora conta sobre seus estudos que avaliam como a atitude dos adultos diante dos números influencia o desempenho das crianças na escola
Tem gente sua frio ao ser interrogado sobre a tabuada, sofre com a divisão da conta em um jantar entre amigos e luta com o cálculo dos 10%. Esse medo ou tensão perante os números é chamado de ansiedade matemática e pode ser passado de pais para filhos, influenciando a aprendizado da disciplina. Essa é a principal ideia dos estudos da psicóloga Susan Levine, da Universidade de Chicago (EUA), que dará a aula de abertura do I Encontro Anual da Rede Nacional de Ciência para Educação (Rede CpE), que acontece de 2 a 4 de agosto em São Paulo.
Levine estuda como a atitude dos pais e o modo como falam sobre matemática e conceitos espaciais em casa pode impactar o desenvolvimento matemático dos filhos. A pesquisadora começou sua linha de pesquisa analisando vídeos de pais e filhos conversando. Ele observou que o número de palavras relacionadas à matemática que as crianças ouviam no contexto familiar estava relacionado com o desempenho delas na disciplina. A quanto mais palavras matemáticas elas eram expostas, melhor era o seu desempenho na escola.
O grupo de pesquisa de Levine mostrou ainda que aprender a usar palavras ligadas a noções espaciais e numéricas (como “circular”, “redondo”, “retangular”, “reto”, “curvo” etc) era um fator preditivo para o pensamento espacial das crianças pequenas anos mais tarde na escola. “Antes desses estudos, não sabíamos o quanto as crianças são expostas à matemática em casa e como essas diferenças familiares afetam o seu aprendizado”, diz a estudiosa.
Levine passou a se concentrar no estudo da ansiedade dos pais em relação à matemática. Seus estudos exploram o lado emocional da matemática, examinando como a emoção dos pais em relação à disciplina afeta o aprendizado e a atitude das crianças. Ela tem mostrado que a ansiedade dos pais atrapalha o aprendizado dos filhos e que é possível intervir para mudar esse cenário, especialmente com medidas entre pais e professores de crianças pequenas ainda na pré-escola.
“Pais e professores de crianças do pré-escolar desempenham um papel importante de colocar as crianças em um caminho positivo ou negativo no aprendizado matemático”, diz a pesquisadora. “Fortes habilidades matemáticas são importantes para o bom desempenho em ciências, engenharia e tecnologias como também em muitas tarefas do nosso dia a dia”.
Confira algumas perguntas e respostas com Susan Levine:
Que iniciativas e ações os pais podem tomar para reduzir o impacto da ansiedade matemática deles sobre os filhos?
Os pais desempenham um papel importante no desenvolvimento matemático das crianças. Tanto o conhecimento sobre matemática quanto a atitude positiva em relação a essa disciplina são muito importantes para o desenvolvimento das noções matemáticas dos filhos. Livrinhos de história com conteúdos espaciais e numéricos são um modo excelente de engajar pais e crianças no pensamento matemático.
Prover os pais com essas historinhas, por meio de aplicativos de celular ou livros, pode ser muito benéfico para os pais que têm ansiedade matemática. Os pais co ansiedade matemática têm mais chance de evitar interações sobre matemática com os filhos, o que pode não ser tão benéfico no desenvolvimento deles. Prover roteiros de interações que envolvam matemática pode ajudar os pais no apoio ao desenvolvimento matemático dos filhos. Nós descobrimos em nossos estudos que intervenções que envolvem esse tipo de roteiro foram ser eficazes em diminuir a lacuna que existia entre os filhos e pais que têm ansiedade matemática em comparação aos pais que não têm essa ansiedade.
Como os professores podem ajudar nesse processo?
Os professores podem favorecer o aprendizado de matemática da mesma maneira que os pais: usando linguagem numérica e espacial, perguntando às crianças sobre quantidades e relações espaciais e engajando-os em atividades que envolvam pensamento numérico e especial. Isso pode ser feito por meio brincadeiras.
Como as emoções negativas em relação à matemática podem afetar o desempenho das crianças?
Descobrimos que os filhos de pais com ansiedade matemática têm notas menores em testes de matemática que as crianças cujos pais não têm esse problema. Também observamos que a ajuda no dever de casa oferecida pelos pais com ansiedade matemática pode ter efeito contrário e, na verdade, levar a criança a ter um desempenho pior.
No entanto, quando damos aos pais um aplicativo de matemática que envolve ler passagens curtas que apresentam problemas matemáticos, conseguimos acabar com essa lacuna que existe entre o desempenho matemático das crianças cujos pais têm e não têm ansiedade matemática.
Existe um momento crítico para intervir?
Minha pesquisa mostra que o ensino e o apoio no aprendizado de matemática bem precoce oferece resultados de longo prazo no desenvolvimento matemático das crianças. Especificamente quando as crianças entram na escola com baixas habilidades matemáticas é difícil de fechar essa lacuna. Assim, é muito importante focar na pré-escola para prover às crianças com os inputs que as permitam entrar no ensino básico com as habilidades necessárias para ser bem-sucedidas em matemática dali para frente.
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