Especialistas sugerem diferentes estratégias para tornar as aulas remotas mais engajantes e eficazes

Com aulas presenciais canceladas e escolas e universidades fechadas, professores trabalham com a possibilidade de transferir suas aulas presenciais para uma dinâmica de ensino remota. Eles precisam se adaptar às pressas ao uso de plataformas virtuais e formular novas estratégias de ensino capazes de atender à demanda de seus alunos neste momento excepcional.

A pandemia traz um contexto único de aprendizagem para a sociedade, segundo avalia a especialista em tecnologias educacionais  Miriam Struchiner (UFRJ), pesquisadora associada da Rede CpE. “Ao mesmo tempo em que é um momento difícil, também estão aparecendo desafios novos. As pessoas começaram a trabalhar em casa, estão usando tecnologias para se encontrar, para ter acesso à cultura e todo mundo está reaprendendo o seu modo de vida, de alguma maneira”. Na educação, alunos e professores com acesso à tecnologia têm a chance de experimentar modos diferenciados de aprendizagem.

Alguns cuidados precisam ser levados em conta por professores que querem e podem trabalhar com atividades escolares remotas. O primeiro deles é de não confundir esse tipo de atividade com educação a distância (EAD). “A EAD é uma modalidade com uma arquitetura pedagógica própria, que abrange conteúdos, atividades e metodologias específicas estruturadas de forma flexível. Nesse momento de pandemia, não é exatamente isso o que as escolas e professores estão adotando, pois não foram treinados para isso”, afirma a pesquisadora associada da Rede CpE Patrícia Alejandra Behar (UFRGS), que atua há 19 anos com EAD. “O correto seria chamar de ensino remoto emergencial, adaptado às pressas para atender às demandas do distanciamento social.”

Ajustar o ensino presencial para o ensino remoto não é trivial e exige preparação. Edmundo Souza e Silva (UFRJ), pesquisador associado da Rede CpE, comenta que é preciso abandonar as aulas longas expositivas de 50 minutos e ofertar atividades que trabalhem a curiosidade dos alunos. “O professor tem que engajar e montar uma classe de forma a discutir mais em menor tempo, porque ninguém aguenta ficar numa videoconferência durante uma hora e meia, duas horas como na aula presencial”, pondera.

O encontro da turma, antes feito presencialmente, pode ser transportado para o espaço virtual. Plataformas como o Moodle, o Google Classroom, o Zoom Meetings, o Hangouts Meet e o Skype são opções para professores manterem o contato com alunos e vêm sendo testadas pelo grupo de pesquisa de Patrícia Behar. A pesquisadora lembra que a atuação do professor é essencial nestes encontros a distância. Ele é o responsável por buscar soluções criativas de ensino e conduzir as interações em grupo, dando condições para a realização da aprendizagem.

Pensando em facilitar o trabalho dos professores, a jornalista norte-americana Virgínia Gewin publicou um manual na revista Nature com dicas para ensinar em tempos de pandemia. Focar no tópico principal da disciplina, estar em constante contato com os estudantes para saber o que eles estão achando das dinâmicas de ensino e apoiar aqueles que tenham dificuldade são algumas dicas. 

É importante, também, levar em conta o modo como os alunos se fazem presentes nas atividades virtuais. Em estudo publicado em 2012, pesquisadores da Universidade da Califórnia e da Universidade de Seoul mostram que receber feedbacks positivos dos colegas e do instrutor, ter respostas respondidas de forma frequente, compartilhar informações, opiniões e experiências pessoais e ser chamado pelo primeiro nome são fatores que interferem na conexão do estudante com ambientes de ensino on-line.


Um laboratório para a aprendizagem

Uma das apostas dos especialistas para engajar os alunos à distância e ocupar o tempo deles durante o isolamento social é a chamada aprendizagem ativa. O termo, que ganhou popularidade nas últimas décadas, se refere a atividades de leitura, escrita, discussão e trabalho para a resolução de problemas, que façam o estudante participar ativamente da construção do conhecimento.

A principal dica dada pela professora Miriam Struchiner é aproveitar o momento que os alunos estão vivendo para criar conteúdo para a aula: “Tem muito conhecimento sobre a sociedade, a economia, a ciência sendo gerado nesta pandemia, e que pode ser trazido para debate entre os alunos”. Ela cita alguns exemplos: “Para que serve uma vacina? Por que a vacina demora tanto tempo para ser desenvolvida? Por que as pessoas que moram em lugares mais pobres estão mais vulneráveis?”. E comenta, ainda, que o lado emocional dos alunos também precisa de atenção. 

A professora Patrícia Behar indica o uso de vídeos e dispositivos móveis (tablets e celulares) como ferramentas de aprendizagem. Ela acredita que o mobile learning (ou m-learning) pode ser uma alternativa interessante para atender alunos que não têm computador em casa, mas vivem colados na tela do celular. Em 2019 tínhamos 235 milhões de smartphones em uso no Brasil, o equivalente a dois smartphones por pessoa, de acordo com a 30ª Pesquisa Anual de Administração e Uso de Tecnologia da Informação nas Empresas, realizada pela FGV-SP. 

Outra ferramenta é o fórum invertido, que consiste em usar o espaço do fórum de interação virtual de plataformas de ensino para propor desafios aos alunos. A estratégia é o professor lançar uma pergunta ou estudo de caso para que os alunos proponham respostas e, mesmo, lancem outras perguntas sobre o conteúdo aos outros colegas, com mediação do professor. Fornece-se ao aluno a oportunidade de se aprofundar no conteúdo das aulas, tirar dúvidas e debater assuntos da disciplina. A tarefa exige empenho e disciplina do aluno, já que ele precisa estudar e se preparar para participar das discussões do fórum virtual. 

Outra metodologia ativa que pode ser usada em tempos de coronavírus é a gamificação. O termo é usado para nomear um conjunto de atividades baseadas na lógica dos jogos, com o objetivo de engajar os alunos na resolução de problemas. Para Behar, os jogos têm tudo para ganhar a adesão dos estudantes, já que eles gostam da competição e da colaboração. A estratégia pode ser aplicada em disciplinas variadas, como ciências, matemática, história e português.

 

Confira mais dicas:

  • Preparar o aluno para a discussão da aula virtual. Fornecer material antecipado e motivá-lo para a leitura.
  • Planejar uma aula virtual interativa.
  • Propor atividades lúdicas, como jogos e desafios.
  • Quando tiver que expor conteúdo, ir direto ao ponto, ao mais importante da aula.
  • Usar o vídeo como base para discussões – e não com fim em si mesmo.

 

 

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