Pesquisadoras compartilham atividades para ajudar crianças a lidar com o estresse e as mudanças de rotina durante a pandemia

Por  Angela Helena Marin, Bruna de Mattos Machado e Ana Carolina de Souza Fonseca

Durante a quarentena, as crianças têm vivenciado diversas mudanças em suas rotinas, tanto com relação a alterações de horários, redução de contato com pares e adultos e da liberdade para ir em diferentes locais, como a escola ou espaços de lazer, além do aumento do medo em decorrência da ameaça de transmissão de COVID-19. Algumas estratégias relacionadas a regulação emocionalpodem ajudar as crianças a lidarem com todas essas mudanças. Para isso, é importante que saibam o que estão sentindo. A habilidade de reconhecer as próprias emoções e  lidar com elas favorece o desenvolvimento de uma comunicação mais adequada e menos impulsiva e agressiva.

As emoções básicas são seis: alegria, raiva, nojo, tristeza, medo e surpresa. Os pais podem ajudar conversando sobre essas emoções, auxiliando as crianças a reconhecê-las e nomeá-las. Além disso, é importante estimular que a criança aceite suas emoções, pois todas são importantes. Para isso, é fundamental que os adultos também aceitem as emoções da criança. É natural ficar com raiva quando alguma expectativa é frustrada. Contudo, isso não significa que a criança pode agir de maneira agressiva, como bater ou insultar alguém. Essa diferenciação entre emoção e comportamento favorece as estratégias de reconhecimento das emoções. Abaixo são descritas algumas atividades que podem ser realizadas entre pais e filhos para ajudar a  desenvolver a regulação emocional.

 

Metáfora das emoções como onda

É importante reconhecer que todas as emoções são como ondas: elas podem parecer enormes e difíceis, mas irão ficar menores e desaparecer. Nós somos como barcos, permanecemos com o ir e vir das ondas. 

Os pais podem explicar essa metáfora construindo um barco de papel juntamente com a criança e colocando-o em uma bacia com água. Podem simular a chegada de ondas grandes e pequenas, demonstrando como o barco retorna ao seu estado de tranquilidade após a passagem das ondas.

 

Como sinto minhas emoções em meu corpo?

Para esta atividade sugere-se a utilização de uma folha de papel A4 ou maior. Pede-se que a criança desenhe um menino ou uma menina. Depois, solicita-se que a criança indique em quais partes do corpo sente alguma emoção, como, por exemplo, o medo (pode sentir falta de ar, taquicardia, tensão nos músculos, enjoo, frio na barriga, vontade de fugir, etc.). 

A atividade também pode abordar a raiva ou outras emoções. Ela favorece o reconhecimento das emoções no corpo e auxilia a criança a reconhecer como ela está se sentindo antes de agir impulsivamente. Assim, pode utilizar algumas estratégias regulatórias antes de expressar o comportamento.

 

Atividades relaxantes em situações de tensão nas quais a criança se sente tensa!

Cheira a rosa e assopra a vela: É uma estratégia de respiração em que a criança deve ficar em um ambiente tranquilo e se sentarem uma posição confortável. Pede-se que inspire como se estivesse cheirando uma rosa (profundamente) e depois expire como se estivesse apagando velas de aniversário (até acabar o ar, para garantir que a vela será apagada). A indicação é que a criança faça a respiração por 5 vezes e repita a atividade se ainda se sentir nervosa.


Bolhas de sabão:
Outra atividade de respiração. A criança pode respirar como se fosse fazer bolhinhas de sabão. Deve inspirar profundamente para ter bastante ar e expirar devagar para fazer uma bolha sem que ela estoure. O treinamento pode ser feito fazendo bolhas de sabão de verdade, o que torna a atividade mais divertida.

 

Robô e boneca de pano: Atividade para promover relaxamento muscular. Perguntar para a criança:
– Como um robô se movimenta? Ele caminha duro (Pede-se para imitar o robô. Os pais podem fazer o robô andando com os músculos tensionados). 

– Como um boneco de pano andaria? Todo mole (Nesse momento, imita-se então o boneco de pano).

Com o robô, as crianças são ensinadas a tensionar vários grupos musculares ( o ideal é que seja um grupo de cada vez, como as pernas e depois os braços). Após cinco a oito segundos, a criança é instruída a liberar completamente a tensão e a relaxar os músculos, como se fosse um boneco de pano.

 

Garrafa da calma (atividade inspirada por Maria Montessori)

Este material tem duas funções. A primeira delas consiste em uma metáfora sobre como o nosso cérebro fica quando estamos nervosos ou irritados. Quando se está tenso, fica mais difícil tomar decisões, pois não se consegue ver as coisas com clareza, assim como a água, que perde a transparência com o glitter. Aceitar as emoções que estão sendo sentidas e esperar que fiquem menos intensas para agir, ajudará a tomar decisões mais conscientes e com menos arrependimentos.

A segunda função do material é a seguinte: sacudir a garrafa e, enquanto o glitter desce, acompanhar atentamente os movimentos do brilho até que cheguem ao fundo. Esta atividade pode ser realizada todos os dias, como um treinamento para que a criança espere estes momentos de tensão e raiva passarem. Para isso, a garrafa não deve ser entregue quando a criança está brava, mas como um treinamento de aceitação das emoções, mesmo aquelas mais desagradáveis, e pode ser feito diariamente. Assim, a criança compreende que poderá agir com mais tranquilidade quando a onda da emoção passar.

Materiais necessário para construir o pote da calma:

  • 1 garrafa pet pequena e transparente
  • 1 ou 2 colheres (sopa) de cola glitter
  • 3 ou 4 colheres (chá) de purpurina
  • 1 gota de corante alimentar
  • Água quente

Misture a água quente e a cola glitter. Mexa até que o glitter da cola se desmanche. Coloque-o na garrafa. A quantidade de água depende da capacidade da garrafa, pois você deve deixar um espaço vazio na parte superior para agitar o conteúdo. Acrescente a purpurina e misture novamente. Adicione uma gota de corante alimentar e feche bem a tampa.

 

Sugestões para Leitura

Stallard, P. (2010). Ansiedade: terapia cognitivo-comportamental para crianças e jovens. Artmed Editora.

Caminha, R. (2014). Educar crianças: as bases de uma educação socioemocional. Novo Hamburgo: Sinopsys. 

Hedtke, K. & Kendall, P. C. (2011). O caderno do gato habilidoso. Lisboa: Coisas de ler.  

Sobre o Autor

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* Angela Helena Marin é psicóloga (UFSM), mestre em Psicologia do Desenvolvimento e doutora em Psicologia (UFRGS) E pesquisadora associada da Rede CpE. Professora dos cursos de graduação e pós-graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e coordenadora do Núcleo de Estudos sobre Famílias e Instituições Educacionais e Sociais - NEFIES. * Bruna de Mattos Machado é psicóloga pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. Doutoranda em Psicologia (Nefies/UFRGS), mestre em Psicologia Clínica (Unisinos) e especializanda em Psicoterapia Cognitivo-Comportamental da Infância e Adolescência (ELO). * Ana Carolina de Souza Fonseca é psicóloga pela Universidade Federal do Rio Grande. Mestranda no Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Integrante do Núcleo de Estudos sobre Famílias e Instituições Educacionais e Sociais - NEFIES.

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