Desenvolvimento infantil e políticas públicas foram os temas de debate
O II Simpósio da Cátedra Unesco de Ciência para Educação reuniu pesquisadores, professores e estudantes em Brasília. Segundo Roberto Lent, coordenador geral da Rede CpE e da Cátedra Unesco de mesmo nome, “o simpósio tratou de duas questões cruciais para o país: a centralidade da educação infantil para o progresso social, e a relação intrínseca da Educação com a Ciência”. Para ele, o objetivo fundamental da Cátedra foi atingido: discutir essas duas áreas vitais para o Brasil.
A sessão da manhã abordou o tema “Educação Infantil: Uma Visão Multidisciplinar”, a partir de perspectivas de três pesquisadores da Cátedra Unesco de Ciência para Educação e da Rede Nacional de Ciência para Educação.
Alejandra Carboni, da Universidad De La República De Uruguay, trouxe dados de pesquisas recentes que associam o desenvolvimento cognitivo ao cenário da criança, ou seja, ao seu contexto socioeconômico. Para a pesquisadora, crescer em contexto socioeconômico favorável pode afetar o desenvolvimento cerebral e isso pode ser medido por uma variedade de testes.
Investimento na primeira infância
A apresentação do pesquisador associado da Rede, Naercio Menezes (Insper), apontou questões semelhantes, trazendo dados sobre o cenário brasileiro. “As condições iniciais de vida são muito determinantes no Brasil. É a loteria da vida”, resumiu Menezes. O dado que baseia a fala é que as crianças que nascem em famílias de maior nível socioeconômico têm mais oportunidades e, consequente, tendem a ter melhores condições de vida futura.
O pesquisador indica ainda: “a proposta de um economista é investir na primeira infância”. Isso porque, ao se investir nessa fase da vida, as crianças vão ter mais possibilidades para se desenvolver nos anos seguintes e na vida adulta”. Contudo, a primeira infância é uma área complexa e interdisciplinar e, por isso, as políticas públicas têm que ser intersetoriais.
A também pesquisadora associada da Rede, Maria Beatriz Linhares (USP), complementa dizendo que “a primeira infância é transversal” e lembrando também que “sem saúde mental, não existe saúde”.
Linhares explicou o modelo de ecobiodesenvolvimento, no qual compreende-se que as experiências e a interação social modelam a arquitetura cerebral, começando já nos primeiros anos de vida. Nesse sentido, é preciso pensar na complexidade de intervir na primeira infância, já que os impactos nessa fase podem ser longevos, e também atuar na relação entre pais e escola – com apoio de políticas públicas.
Cátedra Unesco
Pela parte da tarde, representantes de entidades ligadas à ciência e à educação apontaram desafios para as áreas no cenário brasileiro. Maria Rebeca Otero Gomes, representante da Unesco Brasil, fez um breve resumo da história da organização até os dias atuais, lembrando do sistema de Cátedras, como é a nossa Cátedra de Ciência para Educação. “Uma das funções da Unesco é ser laboratório de ideias. É buscar estudar a educação, a ciência, a cultura, e trazer ideias novas, como são os relatórios que a gente produz”, conta Gomes. “E a mais de 20 Cátedras nos apoiam nessas ações”, finaliza.
O papel das políticas publicas
A presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Mercedes Bustamante, ressaltou que a “educação é o motor da sociedade” em vários momentos de sua apresentação. E, inclusive, tem um papel essencial no cenário de desinformação que vivemos hoje. “Educação é super importante para isso [identificar desinformação] a longo prazo, para analisar criticamente a informação e avaliar a sua veracidade”, enfatiza.
Já Helena Nader, a presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), ressaltou os grandes desafios da ciência para o século XXI. Entre eles, a pesquisadora citou o impacto da desigualdade e da pobreza nos índices de educação e de mercado de trabalho, como no caso dos jovens que não estudam e não trabalham (geração nem-nem). Nesse sentido, Nader se posicionou contra os cortes no investimento na área da Educação no país.
Por fim, Renato Janine, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), fez uma apresentação mais voltada para o debate sobre a importância social da educação. Ou seja, em como a educação – e a ciência – podem contribuir para a democracia e para uma melhora na vida da população.
O VI Encontro Anual da Rede CpE segue nos próximos dias, de 19 a 21 de outubro, com atividades no Centro Cultural da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB).
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Fotos de Gustavo Moreno e equipe.
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