Por Roberto Lent, coordenador da Rede CpE e titular da Cátedra Unesco de Ciência para Educação
No final de outubro, ocorreu, em Fortaleza, o Encontro Global sobre Educação de 2024, organizado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como parte das atividades do G20, sediado este ano no Brasil. A Cátedra Unesco de Ciência para Educação representou a Rede CpE, na pessoa de seu titular e coordenador-geral Roberto Lent, que participou como Debatedor em uma das sessões que reuniu ministros da Educação de diversos países.
Ao todo, o Encontro Global reuniu mais de 50 ministros e vice-ministros e recebeu 94 delegações nacionais, com um total de mais de 650 participantes que assistiram a 5 plenárias e 19 sessões paralelas. Ao final, os participantes aprovaram a Declaração de Fortaleza[1], intitulada “Destravando o poder transformador da educação para o futuro pacífico, igualitário e sustentável”.
A Declaração é contundente: “Cerca de 251 milhões de crianças e jovens permanecem fora da escola e 4 em cada 10 jovens abandonam a escola prematuramente. Perto de 60% de crianças em países de baixa renda não têm acesso a creches e escolas. Cerca de 40% de crianças em idade escolar carecem de habilidades básicas de leitura, sendo que esse índice alcança 84% na África sub-saariana. Os custos globais privados, fiscais e sociais de crianças e jovens que não aprendem são estimados em 10 trilhões de dólares por ano.”
Além de constatar a situação dramática da educação global, a Declaração faz sugestões e recomendações para superar os problemas e avançar na direção do 4º Objetivo Sustentável das Nações Unidas. Uma dessas recomendações salienta a necessidade de basear as políticas e intervenções educacionais em evidências científicas, um dos mais caros objetivos da Rede CpE e da Cátedra Unesco.
A sessão que teve a participação da Cátedra e da Rede CpE (Cuidados de qualidade para a infância e ensino fundamental para todos) contou com a palavra de 5 ministros da Educação: Espanha, Finlândia, Guiné-Bissau, Qatar e Ruanda. As falas dos ministros, como é natural, salientaram as dificuldades e avanços da educação em cada um dos países representados. No entanto, não mencionaram a importância da Ciência na descoberta de caminhos e possibilidades para acelerar o progresso da educação.
Na sequência, Lent comentou o conjunto das intervenções, apresentando a visão da Cátedra e da Rede CpE: “A educação mundial precisa de paz, sim. Precisa de recursos, também. E escolas adequadas, professores preparados, materiais pedagógicos e outros requisitos importantes. Mas precisa da Ciência também. Isso é algo não inteiramente captado pela maioria dos protagonistas da educação em todo o mundo, de professores a gestores. No entanto, torna-se cada vez mais claro que é necessário construir um ecossistema de pesquisa translacional em todo o mundo, planejado para promover a confluência de todas as disciplinas voltadas para um esforço conjunto que possa prover a educação com evidências científicas”.
O Encontro Global sobre Educação promovido pela Unesco em Fortaleza representou um esforço meritório para estabelecer metas que alavanquem o progresso da educação em nível global. Mas também explicitou que ainda falta muito para alcançar os objetivos propostos pela ONU para 2030. Não é provável que em meros 5 anos isso seja possível.
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