Neste segundo artigo, a neurocientista Leonor Guerra e a educadora Ana Luiza Amaral falam sobre como a neurociência tem avançado na compreensão de como o cérebro recebe, processa, armazena e utiliza informações

por Ana Luiza Neiva Amaral / Leonor Bezerra Guerra

Com seus 86 bilhões de neurônios e mais de 100 trilhões de conexões, o cérebro é capaz de processar e arquivar uma enorme quantidade de informações que chegam a ele a todo momento, enviadas pelos órgãos dos sentidos. Essa fantástica atividade dos neurônios é desencadeada pelas experiências que vivenciamos e torna o cérebro uma fábrica de aprendizagem que funciona 24 horas por dia.

Não é possível saber quanto conhecimento os estudantes levam para casa depois de um dia na escola. Atividades, projetos, testes e provas refletem parte do que foi aprendido. Mas, no final das contas, aquilo que realmente o estudante guardou no seu “arquivo pessoal” é algo difícil de mensurar.

É certo que ainda há muito a ser explorado nesse território desconhecido, mas a neurociência tem avançado na compreensão de como o cérebro recebe, processa, armazena e utiliza informações, o que vem permitindo esclarecer como esse processo “invisível” acontece na mente do estudante.

Como ocorre a aprendizagem do ponto de vista do funcionamento cerebral?

Os estímulos que o estudante recebe durante uma aula chegam ao cérebro pelos órgãos dos sentidos e ativam diferentes conjuntos de neurônios, conectados entre si, cada um deles envolvido com uma função mental importante para a aprendizagem. A atenção seleciona as informações e o cérebro dá um significado a elas. As emoções geram a motivação necessária para que as funções executivas planejem estratégias em favor da aprendizagem.

Quando o estudante elabora, repete, relembra, recupera e cria novas informações, ele reativa neurônios e desencadeia neuroplasticidade. Esse processo promove modificações das conexões cerebrais, denominadas sinapses, e consolida as informações na memória de longa duração. Assim, o cérebro processa a aprendizagem, transformando as experiências vividas em conhecimentos, habilidades e atitudes.

Cotidianamente, pais e professores contribuem para as mudanças cerebrais e o aprimoramento das funções mentais que levam à aprendizagem, fornecendo os estímulos, as interações sociais e os valores que serão processados pelo cérebro do estudante. No entanto, em geral, eles conhecem muito pouco sobre como o cérebro aprende.

Daí o necessário diálogo entre a neurociência e a educação, tendo como tema central a aprendizagem. Saber como aprendemos pode contribuir, significativamente, para a compreensão de questões relativas ao cotidiano escolar. A neurociência ajuda a fundamentar a prática pedagógica e a demonstrar que as estratégias pedagógicas que respeitam o funcionamento cerebral tendem a ser mais eficientes.

Nesse contexto, o Sesi (Serviço Social da Indústria) desenvolveu um estudo, fruto do diálogo entre uma neurocientista e uma educadora. Os principais resultados deste estudo são apresentados no livro “Neurociência e educação: olhando para o futuro da aprendizagem”, que aborda 12 princípios da neurociência relacionados à aprendizagem e 22 tendências que estão configurando a educação do futuro. Por meio de linguagem acessível e utilização de infográficos são indicados importantes caminhos para um processo educacional mais efetivo.

O livro será lançado no V Encontro Anual da Rede Nacional de Ciência para Educação, que será realizado presencialmente no Museu do Amanhã (RJ) de 17 a 19 de novembro, reunindo educadores, cientistas e estudantes interessados na área de ciência para a educação. A programação completa está disponível no site.

Clique aqui para baixar o infográfico acima em PDF

Ana Luiza Neiva Amaral

Pedagoga, psicopedagoga, mestre e doutora em Educação pela UnB (Universidade de Brasília). Atualmente, é especialista do Sesi (Serviço Social da Indústria), onde coordena estudos e pesquisas no campo da educação. Autora do livro “Mapa da evolução da aprendizagem no Brasil”.

 

Leonor Bezerra Guerra

Médica, neuropsicóloga, mestre em Fisiologia e doutora em Biologia Celular pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Idealizadora e coordenadora do Programa de Extensão NeuroEduca, pioneiro na formação de professores no campo da Neurociência. Autora do livro “Neurociência e educação: como o cérebro aprende”.

 

*Texto publicado originalmente no site porvir.org

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