Por Roberta Ekuni, professora adjunta na Universidade Estadual de Londrina e pesquisadora associada à Rede CpE
“Smart teaching, stronger learning” (Ensino inteligente, aprendizagem fortalecida) é o título do livro editado por Pooja K. Agarwal, cientista da cognição que pesquisa como se aprende desde 2005.
A obra reúne textos de cientistas cognitivos que também são professores, para compartilhar estratégias de ensino inovadoras que transformam a aprendizagem dos alunos. Tudo baseado nos princípios-chave da ciência da aprendizagem, com capítulos concisos e exemplos do mundo real para educadores e gestores da Educação Básica, Ensino Superior e além.
Como representante da América Latina, fui convidada a escrever um capítulo intitulado “Neuromyths Debunked: Why They Persist and How to Think Smarter” (Neuromitos desmitificados: por que persistem e como pensar de forma mais inteligente). Nesse capítulo, abordo como ideias falsas sobre o cérebro (neuromitos educacionais) podem enganam professores e alunos.
Você já ouviu que ensinar de acordo com o “estilo de aprendizagem” do aluno (visual, auditivo ou cinestésico) melhora o aprendizado? Ou que música clássica aumenta a inteligência das crianças? Essas crenças, conhecidas como neuromitos, são ideias distorcidas sobre o funcionamento do cérebro que se infiltram na educação, levando professores a adotarem estratégias ineficazes. Isso é potencialmente prejudicial, uma vez que educadores podem investir em estratégias fadadas ao fracasso, quando poderiam considerar várias evidências que realmente melhoram a aprendizagem abordadas em outros capítulos do livro.
Pesquisas mostram que educadores em vários países acreditam em mitos como “usamos apenas 10% do cérebro” ou que o hemisfério direito é o “criativo” e o esquerdo, o “lógico”. Essas falsas ideias surgem de simplificações da neurociência, generalizações de estudos com animais ou má interpretação de dados científicos. Além disso, a mídia e cursos de formação docente muitas vezes reproduzem esses equívocos, dando-lhes credibilidade, dados que também encontramos aqui no Brasil.
Um dos grandes problemas é o efeito sedutor da neurociência: termos como “neuro” ou imagens do cérebro tornam informações mais atraentes, mesmo quando não têm base científica. Um estudo realizado em nosso laboratório replicou o dado de que professores consideram um método mais eficaz só porque ele mencionava o “cérebro” no nome – mesmo que a descrição fosse idêntica à de um produto sem essa palavra.
Acreditar em neuromitos pode levar ao desperdício de tempo e recursos. Se um professor insiste em adaptar aulas a “estilos de aprendizagem”, por exemplo, pode deixar de usar técnicas comprovadas, como revisão espaçada e prática de lembrar. Além disso, a falta de alfabetização científica dificulta que educadores identifiquem informações falsas.
Como combater neuromitos?
Desconfie de alegações com “neuro” – Peça fontes científicas sólidas.
Pesquise a origem – Se alguém diz “um estudo mostrou”, busque o artigo original.
Promova informação correta – Redes sociais também podem disseminar ciência de qualidade, compartilhe somente essas informações.
Foque em estratégias baseadas em evidências – Como intercalar conteúdos e testar o que se sabe durante o estudo.
Embora ainda não haja consenso sobre como reduzir a crença em neuromitos, é essencial que educadores se tornem consumidores críticos de informação. Só assim poderão priorizar métodos que realmente melhoram a aprendizagem, em vez de mitos atraentes – porém enganosos.
No Brasil, o livro está disponível para compra no site da Amazon nas versões e-book e impressa (https://www.amazon.com.br/Smart-Teaching-Stronger-Learning-Scientists-ebook/dp/B0F31G8DHN/ref=cm_cr_arp_d_product_top?ie=UTF8).
Artigo:
Neurophilia is stronger for educators than students in Brazil
LUIZ, I.; LINDELL, A. K.; EKUNI, R. Neurophilia is stronger for educators than students in Brazil. Trends in Neuroscience and Education, v. 20, p. 100136, set. 2020.
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