Estudo sobre o perfil do professor no Brasil revela aumento de contratações em contraste com queda nas matrículas escolares. Para pesquisadores,  investimento em quantidade de profissionais vem em detrimento da qualidade do ensino

Quem são e como trabalham os professores no Brasil? Um estudo publicado na Revista Ensaio tenta responder a essa pergunta ao traçar um perfil do professor no país. O artigo traz dados numéricos e informações sobre o grupo com o intuito de servir de insumo para a elaboração de uma agenda pública para melhorar o sistema de educação básica. O estudo revela um crescimento no número de professores de ensino básico no país na última década em contraste com a queda das matrículas de alunos no mesmo período.

O levantamento mostra que entre 2007 e 2017 o total de docentes da educação básica no país (da educação infantil, ensino fundamental, ensino médio, educação profissional, educação de jovens e adultos e educação especial) passou de 1,87 milhão para 2,19 milhões, segundo dados do Instituto Nacional de Estudo e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC). Por outro lado, as matrículas de alunos da educação básica tiveram queda de 53,02 milhões em 2007 para 48,6 milhões uma década depois.

Para um dos autores do estudo, o presidente do Instituto Alfa e Beto João Batista Oliveira,  esses dados revelam uma má distribuição de recursos. “Isso já está contribuindo para inviabilizar as finanças dos estados e municípios e torna cada vez mais difícil melhorar a carreira para os professores”, pontua. “A nossa conclusão é que há um nível muito elevado de desperdício de recursos – se não houvesse seria possível melhorar substancialmente os salários dos professores.”

O levantamento mostra que, na rede pública, os anos finais do ensino fundamental apresentam o maior número de professores, totalizando 631 mil. Também na rede pública são 234 mil professores alocados na educação de jovens e adultos (EJA), enquanto na rede privada, apenas 7 mil professores atuam nessa modalidade.

“A principal mensagem é que existe uma janela de oportunidade decorrente das mudanças demográficas.  Se as redes de ensino souberem se aproveitar da oportunidade poderão criar carreiras novas e estimulantes para jovens de elevado nível de formação”, diz Batista. “Caso contrário, estarão comprometendo o futuro das próximas gerações, pois as redes de ensino irão gastar mais recursos para pagar professores aposentados do que para melhorar a carreira dos professores da ativa.”

O estudo mostra ainda o perfil médio do professor brasileiro.  Em sua maioria, são mulheres brancas que cursaram educação superior e possuem em torno de 40 anos de idade. Essas características são mais frequentes entre os professores do que na população geral entre 25 e 50 anos, na qual as mulheres são 52%, os brancos são 43%, os formados com graduação na educação superior são 18%, e a média de idade é um pouco menor, 37 anos.

 

Principais dados do estudo:

  • O número de professores aumentou consideravelmente nos últimos 15 anos, contrastando com a redução no número de matrículas.
  • Nas redes públicas, os anos finais do ensino fundamental apresentam o maior número de professores, totalizando 631 mil.
  • O professor trabalha 32,5 horas por semana em apenas uma rede de ensino e turno, recebendo salário-hora médio de R$ 21,20.
  • O professor médio é: mulher, branca, na faixa do 40 anos com ensino superior.
  • O número profissionais na educação de jovens e adultos (234 mil) em 2017 representa cerca de 60% do número de professores alocados no ensino médio como um todo.
  • A maioria dos professores trabalha em uma só escola. Do total de professores da educação básica brasileira, 91,4% trabalham em uma única rede de ensino (2,0 milhões), 78,5% lecionam em uma única escola (1,7 milhões) e 72,5% trabalham em uma única etapa de ensino.

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