Um dos maiores neurocientistas do país, sua carreira foi marcada pela busca de entender os mecanismo biológicos da memória
O médico e neurocientista Iván Izquierdo, Pesquisador Associado da Rede CpE, faleceu nesta terça-feira (9/2), aos 84 anos, em decorrência de uma pneumonia causada por COVID-19 . Considerado um dos mais importantes neurocientistas do país e do mundo, Izquierdo dedicou sua vida à pesquisa sobre a neurobiologia da memória e do aprendizado.
Nascido na Argentina em 1937 e naturalizado brasileiro em 1981, Izquierdo estava entre os pesquisadores latino-americanos com mais citações acadêmicas, quase 23 mil, acumulando também mais de 60 premiações, como a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Científico, o Prêmio Conrado Wessel e a comenda da Ordem de Rio Branco. Desde 1957, ele teve mais de 700 trabalhos científicos publicados. Foi membro da Academia Brasileira de Ciências e da National Academy of Sciences (EUA), além de integrante do Comitê Editorial de mais de 30 revistas internacionais. Orientou mais de 100 teses e dissertações.
Iván Izquierdo foi responsável pela descoberta dos principais mecanismos bioquímicos da memória em várias estruturas cerebrais, entre elas, o fenômeno conhecido como dependência de estado endógena e a separação funcional entre as memórias de curta e longa duração.
Em sua juventude, Izquierdo queria ser médico. Após graduar-se em medicina, em 1961, tornou-se professor das universidades de Buenos Aires e Córdoba. Influenciado por uma geração de pesquisadores argentinos que incluía nomes como Luis Federico Leloir (1906-1987) – Nobel de Química em 1970 – e César Milstein (1927-2002) – Nobel de Medicina ou Fisiologia em 1984 – decidiu se tornar cientista.
Na Universidade de Córdoba, fundou o Departamento de Farmacologia, que por muitos anos foi considerado o melhor da Argentina. Em 1962, casou-se com a brasileira Ivone Moraes, com quem se mudou para Porto Alegre em 1973.
Em 1978, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ajudou a criar o programa de pós-graduação em bioquímica e a formar um grupo que se tornou referência mundial em pesquisas sobre memória. Em 2004, após se aposentar, transferiu-se para a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) onde assumiu a coordenação do Centro de Memória do Instituto do Cérebro a partir de 2012.
Nas últimas três décadas, Izquierdo passou a dividir a pesquisa sobre memória com o amor à literatura, publicando livros de ensaios e contos, como “Francisco, o pássaro e o milagre (1999)”, e livros de divulgação científica, como “A arte de esquecer (2004)”. Um de seus prazeres era cantar boleros, antigas músicas mexicanas e canções de Cole Porter e George Gershwin. Em Porto Alegre, entre livros e o violão, deixa a esposa, dois filhos e quatro netos.
Fontes:
Perfil na Academica Brasileira de Ciencias
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