Prêmio Nobel de medicina e Fisiologia deste ano vai para pesquisadores que elucidaram os mecanismos de funcionamento de nossos relógios biológicos, reforçando a ideia de que nossos ritmos deveriam ser respeitados para a melhoria do aprendizado

Todos os seres vivos, animais, plantas e mesmo os unicelulares apresentam ritmos ou oscilações em seu comportamento e funcionamento que acompanham o ciclo claro/escuro ambiental. É fundamental que estes ritmos estejam sincronizadas a este ciclo. Ao longo da história, acreditava-se que estes ritmos, atualmente denominados circadianos, teriam origem apenas nas alterações do ambiente. Acordamos porque amanhece, dormimos porque anoitece.
No século passado, constatou-se que na verdade os seres vivos possuem mecanismos de geração destes ritmos. As estruturas que geram estes ritmos passaram a ser chamadas de relógios biológicos. Faltava conhecer detalhes de seu mecanismo.

Em 1971, dois pesquisadores norte-americanos, Ron Konopka e Seymour Benzer, mostraram, em moscas drosófilas, que a mutação de um único gene alterava profundamente a ritmicidade desses insetos. Com o advento de novas técnicas de biologia molecular, foi possível a identificação deste e de outros genes e dos mecanismos pelos quais estes genes produzem a ritmicidade nas células e, consequentemente, no organismo. Period e Double-time são dois destes genes, que tiveram seu funcionamento “dissecado” nas décadas de 80 e 90 do século passado por Jeffrey C. Hall , Michael Rosbash e Michael W. Young, norte-americanos hoje laureados com o Prêmio Nobel em Fisiologia e Medicina de 2017.

As pesquisas do trio foram fundamentais para a melhor compreensão do chamado “relógio molecular”, conjunto de genes e das respectivas proteínas produzidas a partir dos mesmos responsáveis pela geração e sincronização dos ritmos circadianos ao claro/escuro ambiental.

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Estes genes foram muito conservados ao longo da evolução, ou seja, existem muitas semelhanças entre o relógio molecular dos diferentes seres vivos. Alterações no funcionamento destes genes na espécie humana têm sido associadas a diversas doenças metabólicas, psiquiátricas e distúrbios de sono.

As preferências pelos horários de dormir e acordar mais cedo ou mais tarde estão associadas a diferenças nos genes do relógio molecular (um deles é o Period, estudado pelos laureados). Que a indicação da academia de 2017 contribua para que possamos difundir a ideia de que assim como inúmeras características físicas são fruto de influência genética, o mesmo vale para características temporais. A organização dos horários de trabalho e da escola deve respeitar estas diferenças. Os alunos aprendem de maneiras diferentes e com diferenças em sua ritmicidade biológica. Um aluno considerado matutino, por exemplo, apresenta preferência por acordar cedo e sente mais disposição nesse período. Já para um vespertino, é difícil levantar nas primeiras horas do dia. Isso deveria ser pensado no âmbito da individualização do ensino.

Diversas pesquisas, conduzidas fora do país e aqui no Brasil pelo meu laboratório e de colegas, evidenciam o papel fundamental do sono na consolidação de memórias e do aprendizado. Levar em conta os ritmos biológicos dos alunos é imprescindível para preservar a saúde e melhorar o desempenho das pessoas.

 

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Sobre o Autor

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Fernando Louzada é neurocientista, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e pesquisador da Rede Nacional de Ciência para Educação (Rede CpE).

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