Neste terceiro artigo da série sobre neurociência e educação, entenda como nossos cérebros são tão distintos quanto nossas impressões digitais: cada um tem seu modo de ser e se apropria, de forma única, das informações que recebe

por Ana Luiza Neiva Amaral / Leonor Bezerra Guerra

As pesquisas no campo da neurociência moderna começaram no final do século 19, mas foram as três últimas décadas que testemunharam o surgimento de novas e poderosas técnicas de neuroimagem para análise do cérebro. Esse avanço permitiu uma notável aceleração da pesquisa voltada para a elucidação das redes neurais envolvidas na aprendizagem.

Atualmente, já é possível o exame do cérebro dos estudantes em tempo real, enquanto eles realizam atividades em sala de aula. Na perspectiva da educação, isso significa que as pesquisas não mais se limitam aos laboratórios e podem ser realizadas em situações autênticas, enquanto os estudantes interagem e vivenciam experiências de aprendizagem.

Assim, a neurociência vem esclarecendo vários aspectos do funcionamento cerebral e fundamentando princípios que podem potencializar os processos de aprendizagem. Algumas práticas pedagógicas baseadas nesses princípios já foram investigadas pela neurociência. Os resultados dessas pesquisas demonstram que estratégias que respeitam a forma como o cérebro funciona tendem a ser mais eficientes.

No entanto, a forma como o modelo educacional corrente está desenhado não tem potencializado a aprendizagem e, muitas vezes, vai na direção oposta das descobertas da neurociência, tornando o caminho da aprendizagem mais difícil para os estudantes. Muitos sistemas de ensino ainda não conseguiram superar o ensino enciclopédico, focado na reprodução de informações, despersonalizado e desconectado das emoções. Como consequência, há um descompasso entre o que a escola oferece e a expectativa dos estudantes que, em muitos casos, têm demonstrado falta de motivação e encantamento com a atividade escolar.

A neurociência revela que nossos cérebros são tão distintos quanto nossas impressões digitais. Assim, cada estudante traz para a sala de aula seu modo de ser, seus interesses e talentos e se apropria, de forma única, das informações que recebe. É necessário que o professor favoreça a constituição de sentido nos processos de aprendizagem para que o estudante possa transformar conteúdos distantes e desconexos em algo próprio relacionado à sua experiência pessoal. Além disso, o desenho do currículo e o planejamento das estratégias pedagógicas devem favorecer o funcionamento das funções mentais envolvidas na aprendizagem.

O conhecimento dos princípios neurocientíficos da aprendizagem pode contribuir para inovações educacionais baseadas em evidências. No entanto, para que esses princípios sejam incorporados à prática educativa é imprescindível a inclusão da neurociência educacional no processo de formação inicial e continuada do educador. Esse passo é fundamental para que os professores possam renovar suas práticas em sala de aula, promovendo uma aprendizagem significativa que mobilize o potencial de cada estudante.

Nesse contexto, o Sesi (Serviço Social da Indústria) desenvolveu um estudo, fruto do diálogo entre uma neurocientista e uma educadora. Os principais resultados deste estudo são apresentados no livro “Neurociência e educação: olhando para o futuro da aprendizagem“, que aborda 12 princípios da neurociência relacionados à aprendizagem e 22 tendências que estão configurando a educação do futuro. Por meio de linguagem acessível e utilização de infográficos, são indicados importantes caminhos para um processo educacional mais efetivo.

O livro será lançado no V Encontro Anual da Rede Nacional de Ciência para Educação, que será realizado presencialmente no Museu do Amanhã (RJ) de 17 a 19 de novembro, reunindo educadores, cientistas e estudantes interessados na área de ciência para a educação. A programação completa está disponível no site.

Clique aqui para baixar o infográfico acima em PDF

Ana Luiza Neiva Amaral

Pedagoga, psicopedagoga, mestre e doutora em Educação pela UnB (Universidade de Brasília). Atualmente, é especialista do Sesi (Serviço Social da Indústria), onde coordena estudos e pesquisas no campo da educação. Autora do livro “Mapa da evolução da aprendizagem no Brasil”.

 

 

Leonor Bezerra Guerra

Médica, neuropsicóloga, mestre em Fisiologia e doutora em Biologia Celular pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Idealizadora e coordenadora do Programa de Extensão NeuroEduca, pioneiro na formação de professores no campo da Neurociência. Autora do livro “Neurociência e educação: como o cérebro aprende”.

 

*Texto publicado originalmente no site porvir.org

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