O Brasil continua com desempenho ruim, entre as 20 piores colocações no ranking das três áreas analisadas pelo Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), principal avaliação da educação básica no mundo.

Os resultados, divulgados pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mostram o desempenho dos alunos de 15 anos de 79 países e territórios em matemática, ciências e leitura. O desempenho brasileiro tem se mantido estagnado na última década.

O Pisa traz dados sobre seis países sul-americanos. Em leitura, o Brasil superou Colômbia, Argentina e Peru. Em ciência, empatou com Argentina e Peru entre os últimos, e em matemática, ficou à frente apenas da Argentina. O Chile é o país mais bem-avaliado entre os vizinhos brasileiros em ciência e leitura e é superado em apenas um ponto pelo Uruguai em matemática.

Pesquisadores da Rede CpE comentam os resultados e as possíveis intervenções para melhora da situação brasileira em educação.

 

Victor Haze
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas
Departamento de Psicologia
UFMG

Qual a principal mensagem que podemos tirar dos recentes resultados do Brasil no PISA?
Tudo o que foi feito (ou não foi feito nos últimos 15 anos) não resultou em qualquer tipo de melhoria. Isso significa que continuar fazendo (ou não fazendo) mais do mesmo não resultará em qualquer benefício. A receita utilizada até agora pode ser parte do problema.

Que tipos de intervenções poderiam ser feitas para melhorar os resultados?
Algumas sugestões: a) Mudança nos referenciais epistemológicos da formação de professores, com adoção de uma filosofia de prática baseada em evidências, enfatizando a formação científica dos futuros professores, o que incluiria mensuraração, estatística, controle de variáveis, teste de hipóteses, avaliação crítica da validade da evidência científica etc.; b) Maior atenção na formação dos futuros professores aos conhecimentos das ciências cognitivas da aprendizagem, dando chance a outras perspectivas além de Piaget, Vygotsky, Wallon e Paulo Freire; c) Valorização da carreira docente, com critérios mínimos de desempenho para os candidatos aos cursos de pedagogia, maiores salários e melhores planos de carreira, mas ao mesmo tempo, controle periódico do desempenho.

Maria Regina Maluf
Departamento de Psicologia da Aprendizagem, do Desenvolvimento e da Personalidade
Instituto de Psciologia
USP

Qual a principal mensagem que podemos tirar dos recentes resultados do Brasil no PISA?Os resultados do Pisa 2018 revelam: 1) o poder das escolas brasileiras quando oferecem ensino de qualidade; 2) o desempenho típico dos alunos do ensino médio em consequência do tipo de escola que puderam frequentar. Os resultados revelam assim o que os alunos aprenderam por volta dos seus 15 anos nas “escolas de elite da rede privada”; nas demais “escolas da rede privada” e nas “escolas da rede pública”, que participaram da avaliação. São amostras que informam sobre a população que representam, e, com certeza, os cidadãos brasileiros que dependem do ensino público gratuito continuam sem receber as oportunidades que necessitam e merecem para poderem APRENDER e assim levarem o País a novos patamares de desenvolvimento.

Que tipos de intervenções poderiam ser feitas para melhorar os resultados?
As intervenções que melhoram os resultados em QUALQUER PROFISSÃO são aquelas que fornecem formação adequada e de qualidade aos futuros profissionais. Análises atuais revelam a desatualização das bases bibliográficas utilizadas em cursos de formação de professores, o que em tempos de internet tornou-se ainda menos aceitável face às facilidades de acesso à informação sobre conhecimentos e práticas de ensino com maior probabilidade de sucesso. Precisamos de intervenções que ofereçam conhecimento atual, válido e prático na formação de professores para que seja possível formar professores capazes de abrir janelas de aprendizagem aos seus alunos. É o que as avaliações detectam nos locais em que os alunos mais aprendem.

Marcio da Costa
Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro
Diretor da Escola de Formação Paulo Freire
UFRJ/FE/PPGE
LaPOpE – Laboratório de Pesquisa em Oportunidades Educacionais

Qual a principal mensagem que podemos tirar dos recentes resultados do Brasil no PISA?
O resultado do PISA não diz respeito ao final do ensino fundamental ou início do ensino médio, apenas. Na verdade, ele representa os frutos de dez, onze, anos de escolarização obrigatória por que passou cada estudante. Há uma evidente incompatibilidade entre os recursos materiais destinados à educação brasileira e aquilo que nossos estudantes logram obter nas escolas. De meu ponto de vista, o principal alerta é: precisamos consertar esse sistema escolar desde baixo e não há bala de prata. Ações em diversas dimensões são indispensáveis, desde que haja clareza quanto aos objetivos que se pretende alcançar.

Que tipos de intervenções poderiam ser feitas para melhorar os resultados?
A primeira e mais decisiva não é exatamente uma intervenção, mas uma diretriz geral: a adoção de evidências científicas robustas para informar as decisões educacionais. Não se aplica em grande escala uma vacina sem que tenham sido demonstradas sua eficácia e segurança. Em educação, deveríamos trilhar o mesmo caminho. As linhas de intervenção, para a educação básica, talvez tenham como âncora objetivos curriculares claros, universalmente referenciados, facilmente apreensíveis. Tomando-os como referência, avaliação, material pedagógico, formação de pessoal, tudo o mais passa a ter uma fonte de coerência. Um bom sistema de incentivos pode ser coadjuvante importante.

Sobre o Autor

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Jornalista carioca guiada pela curiosidade e fascinada pela ciência. Especializada na cobertura de ciência, saúde, tecnologia e meio ambiente, atuou como repórter da Ciência Hoje durante maior parte de sua carreira. Na Rede CpE, toca a assessoria de imprensa e a produção de conteúdo.

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