Palestrantes no 2º encontro anual da Rede CpE discutem a ponte entre evidências científicas e sua aplicação em políticas públicas e sala de aula

“O futuro da educação precisa ser baseado em evidências, mas existe um grande caminho entre as evidências e as práticas”, disse o cientista da computação Seiji Isotani, professor do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (ICMC-USP) durante o no último dia do 2º Encontro Anual da Rede Nacional de Ciência para Educação (CpE).

Seiji palestrou na conferência de encerramento do evento, onde falou sobre inteligência artificial (IA) na educação. Nessa área, o pesquisador já vem testando aplicações da tecnologia no ensino. Atualmente, ele conduz experimento com um software criado pelo seu grupo de pesquisa no Laboratório de Computação Aplicada à Educação e Tecnologia Social Avançada (CAEd): o sistema tutor inteligente (STI).

A ferramenta, que no momento está sendo testada para as aulas de matemática de alunos de ensino fundamental, guarda todo o histórico dos estudantes e as estratégias pedagógicas envolvidas no ensino da disciplina. Com base no histórico de cada aluno, o programa apresenta um passo a passo de como o resultado deve ser encontrado e apresenta dicas conforme os erros forem acontecendo. 

O STI entende onde o aluno tem dificuldade e oferece não só uma aprendizagem personalizada, mas informações importantes para a tomada de decisão do professor. O sistema tem se mostrado eficaz justamente pela maneira como trabalha: dando um feedback imediato e possibilitando a metacognição.

“Segundo um estudo da Education Endowment Foundation [2019], os fatores que mais afetam os alunos positivamente na hora de aprender são: feedback e metacognição. E quando a gente trabalha em cima do erro, dando um passo a passo, estamos ajudando nessa metacognição e no processo de aprendizado do aluno”, explica Seiji. “A IA não é o futuro, como muitos pensam, mas sim o presente.”

Gestão e ciência

Na mesa-redonda “Como Estabelecer Políticas Públicas Consistentes em Educação?”, os palestrantes, mediados pelo professor Naercio Menezes, coordenador do Centro de Políticas Públicas (CPP) do Insper, também sobre a ponte entre evidências e ações. Um dos pontos de destaque foi a necessidade de se criar políticas públicas adequadas com base na ciência.

“Políticas públicas precisam passar por um ciclo de planejamento e gestão antes de serem instauradas”, disse explica o economista José Henrique Paim, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV). “E um elemento muito importante é a cultura do acompanhamento do gestor, que quase não acontece aqui no Brasil”.

O economista Ricardo Henriques, superintendente executivo do Instituto Unibanco, que possui o projeto em educação Jovem de Futuro, argumentou que, apesar de produzirmos muitas evidências para os gestores das políticas públicas, cada gestor as interpreta de sua maneira.

Para Ricardo, em uma realidade como a brasileira essa abordagem é insuficiente. “Não é só produzir evidências, a gente precisa fazer uso pleno da ciência, desenvolver esse pensamento científico associado a uma tomada de decisão. A ciência a serviço de uma mudança de patamar de gestão é radicalmente transformadora e talvez seja vital para o novo patamar que queremos em uma educação de qualidade”, concluiu. 

Sobre o Autor

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Jornalista carioca guiada pela curiosidade e fascinada pela ciência. Especializada na cobertura de ciência, saúde, tecnologia e meio ambiente, atuou como repórter da Ciência Hoje durante maior parte de sua carreira. Na Rede CpE, toca a assessoria de imprensa e a produção de conteúdo.

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