Evento vai contribuir com as discussões nacionais para os próximos 6 anos

No dia 8 de março, a Rede Nacional de Ciência para Educação e sua Cátedra Unesco promoveram o Simpósio Educação tem Ciência, no auditório da Academia Brasileira de Ciências. Buscando uma articulação entre ciência e políticas públicas, o evento fez parte da programação preliminar da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CNCTI) e contou com mais de 500 inscritos.

“O Simpósio representou uma iniciativa importante de articulação entre as pesquisas atuais em Ciência para Educação e ações de políticas públicas. Os palestrantes, debatedores e o público participante traçaram estratégias concretas com o intuito de contribuir para com a complexa tarefa de oferecer uma educação de qualidade a nossa população”, destaca Janaína Weissheimer, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, coordenadora adjunta da Rede CpE e uma das palestrantes.

Além de Weissheimer, os demais palestrantes e debatedores do evento construíram um documento a ser enviado à 5ª CNCTI, que vai propor recomendações à Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (ENCTI) para 2024-2030. Assim, o Simpósio propõe articulação entre ciência e políticas públicas e aproximação entre o Ministério da Educação e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação por meio de suas agências de fomento e com o objetivo de lançar editais coordenados que contemplem a área de pesquisa translacional em educação.

Primeira infância, alfabetização e sono

Naércio Menezes, economista do INSPER, mostrou um panorama recente da educação brasileira, destacando as grandes dificuldades e os desafios que enfrentamos hoje. Para ele, os “investimentos na primeira infância são os que dão mais resultados a longo prazo” e, por isso, devem ser o principal foco da educação.

É nessa fase – período que vai do nascimento aos seis anos de idade – em que se formam estruturas cerebrais necessárias para a realização de tarefas, que incluem a alfabetização, por exemplo. Porém, para se obter bons resultados, é preciso pensar e realizar programas multissetoriais, que incluam ações para estudantes, escola, família e comunidade.

Também com foco em alfabetização, Janaína Weissheimer, da UFRN, parte do pressuposto de que a “leitura é a porta de entrada pra todo e qualquer conhecimento na sala de aula”. Logo, a ciência da leitura é essencial para o aprendizado. Mesmo assim, a pesquisadora observa que os documentos oficiais da área da Educação carecem de elementos importantes dessa ciência, com indicações pouco claras aos professores.

Já Sidarta Ribeiro, também professor da UFRN, trouxe dados de sua pesquisa sobre a relação entre sono e aprendizado, mas lembra: “antes de qualquer tipo de discussão sobre educação, precisamos resolver os problemas sociais”. Para o pesquisador, os grandes gargalos da educação são a nutrição, os exercícios físicos e, claro, o sono. Seus estudos vêm apontando que a soneca após as aulas contribui para a fixação do conteúdo a longo prazo e, portanto, deve-se pensar em momentos e espaços para esse cochilo durante o período escolar.

Inteligência artificial

Edmundo Silva, da COPPE-UFRJ, problematizou um pouco da questão, bastante atual, sobre uso extenso da inteligência artificial (IA) e suas aplicações na educação. Apesar não ser recente, a IA teve sim um boom nos últimos anos, especialmente após o lançamento do ChatGPT. E, nesse novo cenário, destaca que “a gente precisa repensar a maneira como ensinamos”.

Mesmo assim, Silva ressalta que esses recursos não vão substituir os professores por um simples motivo: educação não é apenas sobre perguntas e respostas. Ao contrário, é um processo complexo que requer muito mais que uma interação momentânea.

Proposta concreta: articulação entre ciência e políticas públicas

Na função de debatedores, Luis Curi (Conselho Nacional de Educação) e Carlos Aragão (Financiadora de Estudos e Projetos) demonstraram preocupação com a desarticulação entre as áreas da Ciência e Educação no campo governamental e político. Para ambos, é preciso incluir mais ciência na educação, na formação dos professores, nos diversos currículos e vários outros espaços.

Nesse sentido, o coordenador da Rede CpE e da Cátedra Unesco, Roberto Lent, pontuou três propostas importantes para serem levadas à 5ª CNCTI. Primeiramente, sugeriu a criação de instâncias transversais consultivas que reúnam os vários ministérios e secretaria estaduais interessados em estabelecer políticas públicas que utilizem ciência, tecnologia e inovação. Também sugeriu o lançamento de editais de pesquisa, com temáticas de alto interesse para a educação brasileira, e a oferta de bolsas a professores da educação básica que se disponham a participar de projetos de pesquisa. Essas propostas serão levadas à 5a CNCTI, que acontece em junho, e buscam, justamente, a articulação entre ciência e políticas públicas.

Confira o documento com as propostas da Simpósio Educação tem Ciência aqui.

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