Ciência e educação para enfrentar a crise da pandemia

Neste momento crítico da pandemia de Covid-19 no Brasil, a Rede CpE, consciente de suas responsabilidades como entidade que reúne mais de 150 cientistas de várias especialidades que investigam temas ligados à Educação, compartilha com as autoridades e a sociedade recomendações relativas à saúde e à educação, para contribuir com a superação da pandemia.

É preciso seguir princípios éticos e evidências científicas, simultaneamente. O primeiro princípio ético é o da defesa primordial da vida humana. A maior prioridade deve ser a de estancar a circulação e a proliferação desse vírus tão letal, mais ainda se considerarmos as novas variantes que surgem em decorrência dos altos índices de transmissão. Além dos que adoecem e dos que morrem, é extremo o sofrimento e imensurável o impacto sobre as crianças e jovens com a perda de avôs e avós, pais, mães e outros parentes, vítimas do novo coronavírus. 

Tudo indica, também, que as novas variantes virais começam a atingir pessoas de menor faixa etária. Nesse sentido, defendemos os dados que a virologia e a epidemiologia têm gerado: não há terapias precoces eficazes, e o estancamento da pandemia só pode ser obtido por meio de medidas rígidas de isolamento – parcial ou completo, a depender do grau de infecciosidade do vírus e de sobrecarga da rede hospitalar de cada município, região ou estado. O desfecho final com a eliminação do vírus só será obtido pela vacinação em massa, com o emprego de todas as vacinas validadas pela Anvisa, sem falsas economias ou considerações políticas. Vacinar muito, e já!

O segundo princípio ético é o da defesa da educação como direito de todas as crianças e jovens, e como forma essencial de humanizar a sociedade e capacitá-la para o futuro. Protegida a vida, a educação é a prioridade seguinte. As medidas de distanciamento e proteção devem se estender às escolas enquanto a pandemia não cede, e a devida priorização na ordem de vacinação deve ser atribuída aos professores para proteger o sistema escolar. As ferramentas de ensino remoto têm sido a alternativa durante as condições de isolamento, mas precisam ter seu potencial e eficácia estudados por pedagogos, psicólogos, cientistas da computação e outros pesquisadores. Um equilíbrio deve ser encontrado para agora e para o futuro, adotando versões híbridas que atendam às vantagens e desvantagens de cada forma de ensino – presencial e à distância.

A volta à escola será fundamental logo que as condições da pandemia permitirem, mesmo antes do retorno de outras atividades. No presente momento crítico, e quando for necessário iniciar o processo de reconstrução social pós-Covid, todo o esforço deve ser feito para remunerar adequadamente os professores, melhorar as condições das escolas, e incentivar a pesquisa científica sobre a aprendizagem e seus contornos. A presença na escola provê conhecimento e autoconhecimento, sociabilidade, apoio psicológico, segurança, alimentação e melhores perspectivas de futuro socioemocional, profissional e econômico para as crianças e jovens. Além disso, contribui para a saúde mental de alunos e professores, que agora sofrem privados desse convívio físico fundamental. Muitas evidências disso nos são oferecidas pelos psicólogos, educadores, outros cientistas, e os próprios professores.

Finalmente, mas não menos importante, o declínio da circulação do vírus trará a proteção dos adultos e das crianças também pelo retorno à normalidade do trabalho e a retomada do desenvolvimento econômico. Nesse momento será vital implementar políticas que fomentem o crescimento da economia e garantam empregos a todos os brasileiros, mas também que reduzam a cruel desigualdade social e educacional que se acentuou ainda mais com a pandemia. É nesse caminho que podem nos orientar os cientistas sociais e economistas.

A Rede CpE, por meio de seu Conselho Técnico-Científico, deseja manifestar seu compromisso com a ciência e sua adesão a políticas públicas de caráter ético, estratégico e democrático, orientadas por evidências obtidas com as metodologias rigorosas que caracterizam a pesquisa científica em todas as disciplinas. Estimulamos ainda que a sociedade reconheça e valorize o papel essencial da escola e dos professores na formação humana em todas as suas dimensões. A educação deve ser o principal pilar na reconstrução da cidadania e na proteção da vida de cada cidadão.

  • Isolamento social para aliviar a sobrecarga dos hospitais e vacina para todos são as principais armas contra a Covid-19
  • Escolas devem ser as últimas a fechar e as primeiras a abrir; alta prioridade ao cuidado com as crianças e os professores
  • Direcionar recursos para garantir a aprendizagem das crianças e jovens, por ensino presencial complementado por ferramentas remotas
  • Recursos garantidos e crescentes para a ciência voltar-se cada vez mais para a saúde e a educação da população

Esse é o caminho para sairmos desse momento crítico sem precedentes, e restaurarmos a caminhada de progresso da vida nacional.


Março de 2021

Conselho Técnico-Científico da Rede CpE

Denise Fleith (UnB)
Enicéia Mendes (UFSCAR)
Grace Schenatto de Moraes (UFMG)
John Fontenelle Araujo (UFRN)
Marilia Zaluar Guimarães (UFRJ)
Naercio Menezes (INSPER)
Rochele Paz Fonseca (PUCRS)

Coordenação da Rede CpE
Roberto Lent (UFRJ)
Debora Foguel (UFRJ)
Marilia Zaluar Guimarães (UFRJ)
Rochele Paz Fonseca (PUCRS) 

 

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A Rede Nacional de Ciência para a Educação tem por objetivo integrar esforços dos vários laboratórios e pesquisadores do Brasil, de qualquer especialidade, cujo trabalho possa ser aplicado à Educação.

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