Trabalho publicado na revista Nature Science of Learning observou que leitura e escrita compensam os efeitos do envelhecimento no cérebro de adultos idosos com baixa escolaridade.

Os efeitos do processo de envelhecimento sobre a cognição podem ser compensados por hábitos de leitura e de escrita, sugere um novo estudo publicado na revista Nature Science of Learning. O trabalho é fruto de uma parceria multicêntrica e contou com pesquisadoras associadas à Rede CpE, como Lilian Hübner (PUCRS), Janaina Weissheimer (UFRN) e Natália Mota (UFRJ). O estudo está disponível em inglês e está com acesso aberto.

A pesquisa teve como objetivo investigar o efeito dos hábitos de leitura e de escrita na produção oral de narrativas de adultos e idosos com até 82 anos com baixa escolaridade. Para alcançar esse objetivo, a equipe observou os padrões de conectividade da fala em associação com variáveis sociais, como a escolaridade.

“Mais especificamente, nós queríamos investigar a associação de recorrências de curto e longo alcance (medidas de conectividade da fala) com a idade, a escolaridade e a frequência dos hábitos de leitura e escrita de adultos idosos saudáveis”, explica Bárbara Malcorra, primeira autora do estudo, realizado durante seu doutorado na PUCRS.

Ao todo, foram analisadas narrativas de 118 adultos utilizando o software Speech Graphs. “Nós verificamos que o hábito de ler e escrever compensou o efeito do envelhecimento em uma amostra de adultos idosos predominantemente de baixa escolaridade e baixo status socioeconômico, o que traz implicações importantes para a manutenção da atividade cognitiva no envelhecimento e enfatiza o efeito protetor da leitura e da escrita ao longo da vida”, complementa Malcorra.

O contexto da realidade brasileira é importante para entender os achados da pesquisa. Segundo Malcorra, com o aumento da expectativa de vida em todo o mundo e, consequentemente, das taxas de demência – as quais são proporcionalmente maiores em países em que há baixa escolaridade e baixo nível socioeconômico – cresce também a necessidade de medidas preventivas e de políticas públicas com foco na educação formal, no incentivo à leitura e à escrita. A pesquisadora ressalta, também, a importância do treino e da estimulação linguístico-cognitiva no envelhecimento.

“Nesse sentido, o estímulo à leitura e à escrita poderia mitigar o impacto da baixa escolaridade e da baixa renda na cognição de adultos idosos, trazendo a eles melhores condições de vida e bem-estar. Da mesma forma, programas de treino ou de estimulação linguístico-cognitiva, como o AtivaMente/PalavrAtiva, desenvolvido por autoras deste artigo, pode auxiliar pessoas adultas e adultas idosas, em especial as que já não frequentam mais ensino formal”, afirma a autora.

O artigo é um desdobramento do projeto de pesquisa “Processamento Semântico e Discursivo no Comprometimento Cognitivo Leve e na Doença de Alzheimer: um estudo comportamental e com neuroimagem”, coordenado pela pesquisadora Lilian Hübner.

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