Pesquisadores dão dicas práticas de como se manter motivado para estudar

José Aloyseo Bzuneck (Universidade Estadual de Londrina) 
Evely Boruchovitch (Universidade Estadual de Campinas)

 

Com a suspensão das aulas presenciais e a obrigatoriedade de continuar estudando em casa, o aluno se encontra com um novo e grande desafio:  como manter a motivação para aprender, sem o apoio presencial dos professores e a intensa interação com os colegas?

A primeira consequência importante deste momento é a necessidade de o estudante se tornar, mais decididamente, o agente de sua aprendizagem, especialmente de sua motivação para estudar e cumprir as tarefas propostas pela escola. O aluno precisa ter a capacidade de gerenciar sua motivação e emoções. Ser um estudante autorregulado e estratégico é ainda mais importante neste momento.

Pandemia a parte, evidências mostram que nem sempre as atividades de aprendizagem são prazerosas para os alunos. Afinal, aprender exige esforço mental, disciplina, renúncia de fazer outras coisas mais atraentes e muita persistência, sobretudo quando surgem dificuldades (sempre surgem!). Mas, é importante mencionar que, mesmo nesses casos, há maneiras muito eficazes dos estudantes se motivarem para as tarefas de aprendizagem, especialmente nesta fase totalmente nova para todos. Nesse sentido, este texto tem como objetivo prover o leitor com sugestões práticas que podem ser disponibilizadas aos alunos pelos professores de forma a ajudá-los a se manterem motivados a estudar.

O que posso fazer para me manter motivado?

Para começar, pergunte a si mesmo: o que é que eu ganho estudando? Estudar traz vantagens profundas e úteis para sua vida no presente e no futuro. Sem estudo, não há futuro. Quem estuda e aprende terá uma vida melhor, uma profissão e uma vida mais feliz. O seu futuro será como você se preparar para ele. Pense que você está se desenvolvendo em direção ao que virá depois e aí terá uma boa razão para continuar se empenhando.

Ah! E estudar para tirar boas notas, fazer bonito para os pais e colegas não são também boas razões? Sim, claro que são e esse modo de pensar vai lhe ajudar também. Mas, tenha em mente que, mais do que tirar boas notas e receber aplausos dos outros, há um ganho muito mais valioso que deve ter em vista:  adquirir mais conhecimento, saber mais, ser mais competente, dominando os conteúdos das matérias escolares.

O que posso fazer diante de tarefas escolares/acadêmicas que preciso realizar, mas que acho chatas?

Todos os alunos se defrontam com matérias difíceis e tarefas chatas. Esta é a hora em que você não deve se entregar.  Certos alunos, nessa situação, interrompem a tarefa e se envolvem com atividades mais prazerosas, como, por exemplo, checar o whats-app ou procurar jogos eletrônicos.

Já um aluno que é o agente de sua própria vida escolar ou acadêmica faz diferente: busca uma estratégia para se envolver naquela atividade de aprendizagem, isto é, busca uma maneira diferente de tratar o assunto. Uma delas, por exemplo, com a matemática, é transformar a tarefa em um jogo que, por sua natureza, é desafiador e estimulante, fazendo a tarefa mais lúdica e menos árida. Mas, isso, nem sempre é possível e exige certa criatividade e tempo, às  vezes não disponível.

Outra saída é a buscar em pensamento alguma aplicação prática do que está estudando, ou descobrir alguma relação com seu mundo, seus interesses e gostos pessoais. Pergunte a si mesmo: o que esta leitura, estes problemas de matemática ou de ciências, esta redação ou este trabalho tem a ver com minha vida, meu mundo, meus interesses? Procure criar um valor para a realização da tarefa! Reconhecer que ela até pode ser chata, porém importante, pode lhe ajudar a manter sua motivação.

Outra solução é se prometer uma recompensa final.  É uma saída que funciona com a maioria dos alunos, porque toda recompensa, mesmo antecipada, é muito motivadora. A recompensa para si mesmo poderá ser: descansar, ouvir música, ver TV, entrar nas redes sociais, ir brincar, encontrar amigos ou o que lhe apetecer. Há alunos, inclusive, que são mais ousados e prometem a si mesmos um possível castigo caso não cumpram certa obrigação escolar. O castigo seria, por exemplo, não usar o celular por algumas horas. Todavia, a literatura mostra que é melhor se prometer uma recompensa agradável do que uma punição.

O posso fazer para não me desmotivar diante de uma tarefa escolar que não me sinto capaz de realizar?

Não se sentir capaz de dar conta sozinho de certa tarefa de aprendizagem é bastante comum. Nesses casos, o aluno  vê  o desafio como muito superior às suas capacidades e habilidades e, por isso, tem a tentação de desistir, não sabendo o que fazer, nem como. Sua motivação pode ficar bloqueada.

Na situação de educação remota, podem acontecer coisas como o aluno buscar no Google a resposta para uma  prova, ou pedir a solução para os adultos, em vez de tentar resolver sozinho o problema. Isso deve ser evitado. Essa estratégia não acrescenta muito à aprendizagem. Isso não quer dizer que o aluno não deva pedir ajuda. Pedir ajuda é muito importante e muito diferente de pedir para alguém fazer para você ou simplesmente copiar uma solução para o problema mecanicamente da internet. Uma solução mais construtiva e eficaz é ter crenças positivas quanto a sua capacidade de aprender e dizer para si próprio, por exemplo: “Eu sei que posso realizar essa tarefa. Vou conseguir!”. Lembre-se também, de situações passadas em que você superou dificuldades semelhantes, chegando a boas experiências de sucesso. Isto vai torná-lo mais confiante.

Outra dica é dividir tarefas grandes em partes ou trechos: primeiro isso, depois aquilo e assim por diante.  Estabeleça metas curtas e possíveis de serem realizadas. Elabore um cronograma de ação para o cumprimento de cada etapa. Você verá que será bem mais fácil dar conta de cada pedaço, um por um.  Assim, a sensação de sucessos parciais lhe dará a certeza de que tem capacidade. Lembre-se: motivação para aprender envolve iniciar a tarefa e se manter motivado até a sua finalização! Isso é possível sim!

 

Sugestões para Leitura

Boruchovitch, E. & Bzuneck, J.A. (2009). A motivação do aluno: contribuições da Psicologia contemporânea. Petrópolis-RJ: Vozes.

Boruchovitch, J.A. Bzuneck, & S.E.R. Guimarães (Org.). (2010). Motivação para aprender: aplicações no contexto educativo. Petrópolis-RJ: Vozes.

Boruchovitch, E.; Gomes, M.A.M. (2019). Aprendizagem Autorregulada: Como promovê-la no contexto educativo? Petrópolis: Vozes.

Bzuneck, J.A.; Boruchovitch, E. (2016). Motivação e Autorregulação da Motivação no Contexto Educativo. Psicologia: Ensino & Formação, v. 7, n. 2, pp. 73-84.

Mega, C.; Ronconi, L.; De Beni, R. (2014). What Makes a Good Student? How emotions, self- regulated learning, and motivation contribute to academic achievement. Journal of Educational Psychology, v. 106, n. 1, pp. 121-131.

Newman, R.S. (2006). Students´adaptive and nonadptive help seeking in the classroom: implications for the context of peer harassment. In S. Karabenick & R. S. Newman (Eds.) Help seeking in academic settings: goals, groups, and contexts (pp.225-258) Lawrence Erlbaum Associates.

Schunk, D.H.; Meece, J. L.; Pintrich, P.R. Motivation in Education: Theory, Reearch, and Applications. (4ª ed.)  Boston, Mass., 2014.

Serafim, T.M & Boruchovitch E. (2010). A estratégia de pedir ajuda em estudantes do ensino fundamental. Psicologia: Ciência e Profissão, 30 (2), 400-413.

Wolters, C.A.(2003). Regulation of motivation: Evaluating an Underemphasized aspect of Self-regulated Learning. Educational Psychologist, v. 38, n. 4, pp.189-205, 2003.

Sobre o Autor

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José Aloyseo Bzuneck é professor titular da Universidade Estadual de Londrina. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Ensino e Aprendizagem na Sala de Aula, atuando principalmente nos seguintes temas: motivação e aprendizagem, ensino e motivação, motivação, formação de professores e psicologia educacional. Ele tem Doutorado em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo (1980) e Pós-Doutorado em Educação, pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP, 2012). Evely Boruchovitch é psicóloga pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Ph.D em Educação pela University of Southern California, Los Angeles, Professora Titular do Departamento de Psicologia Educacional da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas-Unicamp, Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Psicopedagogia (GEPESP/ Unicamp).  Membro Fundador da Rede Nacional de Ciência para Educação- CpE. Bolsista de Produtividade do CNPq 1B.

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